Da leitura desta obra surge um Pereira Passos humano, complexo, não apenas a figura-símbolo da imagem da Reforma Passos, ilustrada pela historiografia dos anos 1980 como o homem do “bota-fora”, da exclusão das classes trabalhadoras do centro do Rio de Janeiro.
O autor nos apresenta um engenheiro humanista, erudito, colecionador, formado na conjunção entre romantismo e conservadorismo, que marcou o projeto moral do Império. O prefeito das reformas que reconfiguraram a identidade do Rio de Janeiro mostra-se aqui de corpo inteiro.
As ideias de Pereira Passos como um “Haussmann tropical”, ou do Rio de Janeiro como uma cópia superficial de Paris, são veementemente refutadas com riqueza de argumentos, farta pesquisa documental e erudição invejável. No lugar de uma “Reforma”, vemos diversos projetos de intervenção em disputa, cada um deles com seus “projetos morais”, suas concepções de tempo, história e vida urbana. No lugar da cidade vitrine, vemos emergir, por entre diversas camadas de historicidade, uma cidade que resiste como sujeito, complexa, profunda, algumas vezes contraditória e ambivalente.
Este livro é também uma declaração de amor ao Rio, a defesa e o reconhecimento da centralidade de uma história e uma paisagem. Para quem conhece a cidade, é a descoberta de novas camadas, de novos sentidos para ruas e prédios que ainda estruturam a vida cotidiana.