Custódio Mesquita
Custódio Mesquita Pinheiro nasceu no Rio de Janeiro, no dia 25 de abril de 1910. Era filho de Raul Cândido Pinheiro e de Camila de Mesquita Bastos Pinheiro. Começou a aprender piano com a mãe e teve aulas com vários professores. Porém, sempre preferiu “tocar de ouvido”, desprezando as partituras. Foi matriculado no Liceu Francês, mas não se dedicava aos estudos. Na tentativa de melhorar a disciplina do filho, Dona Camila o colocou no corpo de escoteiros do Fluminense Futebol Clube. Lá, Custódio tomou contato com a banda e se apaixonou pelos tambores. O gosto pela percussão levou Custódio a tocar bateria. Ainda estudante, começou a se apresentar como baterista de um conjunto no antigo Cinema Central. Para isso, faltava às aulas. Um dia, foi flagrado pela mãe, que aplicou uma surra no rebelde. Não adiantou, Custódio preferiu largar os estudos e seguir a carreira artística. Passou a se apresentar nas rádios como pianista e começou a compor. Em 1932, teve suas primeiras composições gravadas por Silvio Caldas: as músicas “Dormindo na rua” e “Tenho um segredo”. No mesmo ano, em parceria com Noel Rosa, compôs “Prazer em conhecê-lo”, que foi gravada por Mário Reis.
O ano de 1933 foi de muito trabalho. Custódio Mesquita se apresentava em rádios e cassinos. Teve várias composições gravadas. Mas o primeiro grande sucesso de Custódio Mesquita só aconteceu com a marcha “Se a lua contasse”, gravada em novembro de 1933, por Aurora Miranda e muito cantada no carnaval de 1934. “Se a lua contasse” foi também o primeiro sucesso internacional de Custódio Mesquita. Foi ouvida em toda a América Latina e também nos Estados Unidos e na Europa.
No início da década de 30, crescia cada vez mais a importância do rádio na comunicação de massa. A voz dos artistas, que era ouvida somente em teatros ou outros ambientes fechados, pode ser levada até a intimidade dos lares dos ouvintes. Surgiu a figura do “Cantor de Rádio”. Um artista que interpretava os mais variados sentimentos humanos. Vários cantores se tornaram conhecidos, admirados pelo público e se tornaram ídolos. Custódio Mesquita foi o primeiro a expressar esse fenômeno em linguagem musical. Compôs o fox “Cantor de Rádio”, gravado em 1933 por João Petra de Barros.
Custódio Mesquita teve participação importante também no teatro de revista. Desde 1932, escrevia partituras para peças teatrais. Em 1935, incluiu três canções em duas peças montadas no início do ano e participou da encenação da revista Cidade Maravilhosa. Custódio teve participação em 54 peças, tanto como autor, ator ou compositor. Com o amigo e parceiro Mário Lago escreveu sua primeira peça: “Sambista da Cinelândia”, encenada em 1936. A música título da peça foi gravada por Carmen Miranda.
Custódio Mesquita continuou a escrever em parceria com Mário Lago. Entre 1936 e 1938, a dupla escreveu cinco revistas. A última foi “O fim do mundo”. Faziam parte da peça as músicas “Enquanto houver saudade” e “Nada além”. Os dois parceiros queriam que Orlando Silva gravasse as duas composições, mas não tinham certeza se o cantor iria aceitar. Custódio convidou então Orlando para assistir a peça na esperança de que ele se interessasse pelas músicas. Foi o que aconteceu. No final da apresentação, Orlando Silva procurou o compositor e entusiasmado disse: “Custódio, me dá agora mesmo as partes de piano dessas músicas que eu quero gravá-las o mais rápido possível”. “Nada Além” foi um dos maiores sucessos da carreira de Orlando Silva.
Um dos vários parceiros de Custódio Mesquita foi Sady Cabral. Uma das maiores composições da Música Popular Brasileira, que recebeu diversas gravações através do tempo é o fox “Mulher”. Na sua poesia, Sady quis homenagear uma certa mulher. Porém, Custódio Mesquita convenceu o parceiro que seria melhor fazer uma música que servisse para homenagear todas as mulheres em qualquer tempo. O resultado foi este fox imortalizado em disco por Silvio Caldas, em 1940.
Outro grande sucesso da dupla Custódio Mesquita e Sady Cabral é a valsa “Velho Realejo”. Custódio tinha uma melodia e procurou Sady Cabral em busca de uma letra. A princípio, Sady não queria escrever uma poesia para aquela música. Argumentou que aquele ritmo não era da Música Popular Brasileira. Custódio Mesquita concordou, pois se tratava de uma valsa mexicana. Mas não podemos esquecer que na década de 40 a influência da música e do cinema mexicanos era grande em nosso meio. Custódio se aproveitou do momento e, vencida a resistência de Sady, “Velho Realejo” foi entregue a Silvio Caldas, que o transformou num dos maiores sucessos dos três.
A carreira de Custódio Mesquita era brilhante. Tudo o que escrevia era sucesso. Na década de 40, todos os grandes cantores da época procuravam Custódio para gravarem suas músicas. Segundo Almirante, a música de Custódio Mesquita contribuiu para aumentar a celebridade de inúmeros de nossos intérpretes. Em 1944, entre várias composições, destacou-se o fox “Rosa de maio”, gravado por Carlos Galhardo. A composição nasceu de uma inspirada letra de Evaldo Rui.
O ano de 1945 começou muito bem para Custódio Mesquita. Só nos dois primeiros meses teve oito músicas de sua autoria lançadas. Uma delas em parceria com Orestes Barbosa e as outras com letras de Evaldo Rui. Entre elas, “Feitiçaria’, “Eu fico’ e “Sim ou não”. A carreira de Custódio Mesquita foi interrompida em 13 de março de 1945, quando o compositor faleceu, aos 35 anos de idade. Mas os lançamentos de suas músicas continuaram. Uma delas, “Saia do caminho”, havia sido escrita para Jorge Goulart, que chegou a cantá-la em cabarés e rádios e iria gravar a música no dia 14 de maio de 1945. Com o falecimento de Custódio Mesquita, a RCA Victor cancelou a gravação. No início do ano de 1946, Evaldo Rui fez algumas modificações na letra para torná-la feminina. A música foi gravada por Araci de Almeida, na Odeon, e é mais uma das composições de Custódio Mesquita lembradas até hoje.