Nilo Sérgio – 100 anos de um pioneiro da indústria fonográfica brasileira
Pesquisa e texto: Patrícia Rodrigues
Fundador da gravadora Musidisc, na década de 50, Nilo Sérgio foi o responsável por inúmeros sucessos fonográficos como a orquestra Românticos de Cuba, Don Pablo de Havana e Orquestra (Maestro Carioca), o sax de Bob Fleming (Moacyr Silva) e Trio Surdina, entre outros. Lançou artistas como Ed Lincoln, Orlann Divo e Silvio Cesar.
Carioca, nascido em Vila Isabel, em 16 de junho de 1921, seu nome de batismo era Nilo Santos Pinto. Era irmão do teatrólogo Walter Pinto. Esse ano, Nilo estaria completando 100 anos.
Dono de uma bela e afinada voz, o talento para o canto surgiu ainda criança, quando brincava de cantar.
Em 1942, decidiu inscrever-se na “Hora dos Calouros”, da PRD-2 – Rádio Cruzeiro do Sul. Queria experimentar uma sensação nova, o que não lhe aconteceu, pois se manteve calmo durante a audição – conforme contou a Miguel Curi, na edição de 19 de janeiro de 1946 da revista Carioca. O programa era apresentado por Edmundo Maia aos domingos. Nilo Sérgio recebeu a nota máxima e ainda conquistou o prêmio de 300 cruzeiros que estava acumulado.
No dia seguinte, apresentou-se ainda no programa de calouros da Rádio Ipanema comandado por Afonso Scola onde também conquistou a nota máxima. O mesmo aconteceu na audição na Rádio Club do Brasil.
Foi contratado pela Radio Cruzeiro do Sul. Paulo Roberto gostou dele e o contratou. No ano seguinte, fez um teste na Rádio Nacional e foi aprovado por Haroldo Barbosa e Lyrio Panicalli. Foi contratado pela emissora para cantar musica norte-americana.
Na Rádio Nacional, foi crooner da Orquestra All Stars, do Maestro Carioca; cantou nos programas “Variedades Philips”, “Romance Musical”, “Dona Música”, “Um milhão de melodias”, “Programa Cesar de Alencar”, entre outros, e fez parte do elenco de algumas radionovelas como “Ternura”, de Amaral Gurgel. Foi também o locutor do programa “Amigos do jazz”, que ia ao ar quatro dias por semana.
Logo se tornou um dos mais destacados intérpretes da música norte-americana. Foi convidado para gravar na RCA Victor.
Ainda segundo a revista Carioca, o fox que mais gostava de cantar era “Night and Day”, de Cole Porter. Para ele, a emoção mais positiva que teve foi quando interpretou, pela primeira vez, em uma transmissão em ondas curtas, “Night and Day”, gravado também para o programa “Um milhão de melodias”.
Nilo Sérgio logo se tornou um dos mais destacados intérpretes da música norte-americana. Ainda em 1943, tornou-se crooner da Orquestra The Midnighters, dirigida pelo Maestro Zaccarias, e foi contratado para gravar na RCA Victor. As primeiras gravações foram os foxtrotes “Take it from there”, de Robin e Rainger, e “I Had The Craziest Dream”, de Harry Warren e Mack Gordon. Em novembro do mesmo ano, gravou com o conjunto vocal “As Três Marias” (Marília Baptista, Bidú Reis e Regina Célia), o samba de Ary Barroso, “Morena boca de ouro”, com acompanhamento de Zaccarias e Sua Orquestra. O disco foi lançado em abril do ano seguinte.
Entre as gravações de Nilo Sergio e a Orquestra The Midnighters, lançadas em 1944, estão San Fernando Valley, de Gordon Jenkins; “Long Ago”, de Jerome Kern e Ira Gershwin; “Goodnight Wherever You Are”, deHoffman, Robertson e Weldon; “How Blue The Night”, de Jimmy McHugh, Jack Mason e Harold Adamson; “Shoo Shoo Baby”, de Phil Moore; “Don’t Sweetheart Me”, de Cliff Friend e Charlie Tobias; “Someday I’ll Meet You Again”, de Ned Washington e Max Steiner; “The Dreamer”, de Frank Loesser e Arthur Schwartz, entre outros.
Entre 1945 e 1949, foi contratado da gravadora Continental, onde gravou mais de 20 músicas. Em 1949 fez suas primeiras gravações em português: “Canção de aniversário”, de José Maria de Abreu e Alberto Ribeiro, e “Falta-me alguém”, de Pedro Caetano e Claudionor Cruz.
Em 1947, Nilo Sergio realizou um grande sonho: viajar aos Estados Unidos. Conheceu Frank Sinatra e cantou na NBC, no programa “The time, the place and the tune”.
De volta ao Brasil, passou a fazer parte do “Cast” da PRG-3 Rádio Tupi, dos Diários Associados. Na mesma época, passou a apresentar na Rádio Tamoio, também dos Diários Associados, o programa “Lojinha de Música”, no qual comentava as novidades da música norte-americana. Em 1948, abriu sua “Lojinha de música”, na Rua Senador Dantas, no Centro do Rio de Janeiro.
Nilo Sérgio destacou-se também como compositor. Em 1949, escreveu “Trevo de quatro folhas”, uma versão para I’m looking over a four leaf clover, de Harry Woods Dixon e Mort Dixon, lançado em disco por ele na Continental, e pelos Vocalistas Tropicais, na Odeon.
Entre suas composições estão “Anseio”, “Canção dos namorados” e “Aniversário de mamãe”, em parceria com Alberto Ribeiro; “Na madrugada”, “Amanhã eu vou”, “Que importa a vida”, com Raimundo Baima, “Você é tormento” e “Canção para um homem no espaço”.
Em 1952, Nilo Sérgio encerrou as atividades de sua Lojinha de Música para dedicar-se a um um novo empreendimento. Foi quando lançou a gravadora Musidisc. A direção musical foi entregue ao Maestro Leo Peracchi. O primeiro disco lançado pelo novo selo foi o 10 polegadas “Datas Felizes”.
Na Musidisc, lançou o “Trio Surdina”, formado por por Garoto (violâo), Fafá Lemos (Violino-surdina) e Chiquinho (acordeão), foi o responsável pelo retorno da cantora Marília Batista ao disco, com o álbum duplo “História Musical de Noel Rosa”, lançou discos de cantores consagrados como Orlando Silva “O Cantor das Multidões”, em dois Lps de dez polegadas, com músicas de Custodio Mesquita e Ari Barroso. Nilo Sérgio foi o criador de grandes sucessos de vendas como a Orquestra Românticos de Cuba, Don Pablo de Havana (Maestro Carioca), Violinos Mágicos, o saxofonista Bob Fleming (Moacir Silva), entre outros. Descobriu grandes talentos artísticos como Ed Lincoln, Orlandivo, Pedrinho Rodrigues e Silvio Cesar.
Nilo Sérgio faleceu no Rio de Janeiro, em 3 de junho de 1981, de um ataque cardíaco quando se encontrava no interior do Edifício Garagem Meneses Cortes, no Castelo. Foi um autêntico pioneiro dentro do panorama do disco no Brasil, revolucionando o mundo das gravações fonomecânicas, aperfeiçoando ao máximo o seu nível de pureza sonora, além de inovar no bom gosto da beleza fonográfica e artística das capas – destacou o jornalista Claribalte Passos, no obituário publicado pelo Jornal do Commércio.