Emilinha Borba, a eterna Rainha do Rádio

Emilinha Borba, a eterna Rainha do Rádio

Uma das cantoras mais populares da história da música brasileira, Emilinha Borba marcou época na Era de Ouro do Rádio. Intérprete de inúmeros sucessos como “Se queres saber”, “Dez anos”, “Chiquita bacana”, foi a cantora que mais títulos recebeu em toda a carreira: Rainha do Rádio, Favorita Permanente da Marinha, Rainha dos Corações, Rainha dos Músicos, Cantora favorita da Cidade do Rio de Janeiro e muitos outros.

Sua simplicidade a tornou muito querida pelo público. “Sou muito simples mesmo. Entre fazer um show no Copacabana Palace e num teatro de Madureira, onde o pessoal fica de mão vermelha de tanto bater palma, eu prefiro o subúrbio. Só gosto de ir aonde meu público possa ir” – afirmou Emilinha ao Jornal do Brasil, em janeiro de 1970.

Atraía multidões por onde passava. O dia de seu aniversário, 31 de agosto, era um grande acontecimento na cidade do Rio. Seus fãs lotavam a igreja onde era celebrada a missa em comemoração à data de seu nascimento.

Emília Savana da Silva Borba nasceu na Rua Visconde de Niterói, na Vila Savana, na Mangueira, no Rio de Janeiro. O ano de seu nascimento até hoje é motivo de discussão, já que a cantora costumava contar que precisou alterar a idade no início da carreira, chegando até mesmo a adulterar seus documentos. À Revista A cena muda, informou que nasceu em 31 de agosto de 1922. A mesma data consta em seu contrato na Rádio Nacional. A Revista Carioca, certa vez publicou que Emilinha teria nascido em 1921. Algumas publicações da época informam o ano de 1923, que segundo o fã-clube da cantora, é o que consta em seus documentos. O registro civil do nascimento de Emilinha foi feito por seu pai, em 1927, e informa que Emília Savana da Silva Borba nasceu em 1922.

Podemos dizer, então, que há 100 anos, nascia a cantora Emilinha Borba, a eterna Rainha do Rádio.

Ela era filha de Eugênio Jordão Borba e Edith da Silva Borba e tinha mais seis irmãos: Maria de Lourdes, Xezira, Salette, José Maria, Teresinha e Ely. Quando o pai de Emilinha faleceu, sua mãe foi morar no Centro da Cidade com uma prima e passou a trabalhar para sustentar os sete filhos.

Desde criança, Emilinha gostava de cantar e viu na arte uma possibilidade de ganhar dinheiro para ajudar a mãe. Ainda menina, começou a se apresentar em programas de rádio sem que sua mãe soubesse. “Descobri o meu fiozinho de voz com apenas 11 anos e fui logo fazer a Hora Juvenil na Rádio Cruzeiro do Sul. Já dava para defender uns 50 mil réis que eu comprava de bala” – contou à Jornalista Gilse Campos, do Jornal do Brasil em 1970.

O Programa Hora Juvenil ia ao ar nas manhãs de domingo. Para surpresa de Emilinha, sua primeira apresentação agradou muito os ouvintes e ela foi convidada para cantar na semana seguinte. Desde então, tornou-se figura permanente do programa.

Revelação do rádio

Gazeta de Notícias, 04 de setembro de 1937

A jovem cantora começou a chamar a atenção da imprensa da época. A coluna Por trás do dial…, da Revista Carioca, de 24 de julho de 1937, publicou: “Emília Borba, cantora da “Hora Juvenil” da PRD-2, interpretou na semana passada “Danse Rumba”, de Djalma Esteves e Bucy Moreira. Emília Borba é uma jovem e bonita cantora que se vem fazendo na “Hora Juvenil e pode ir longe…”

Emilinha cantou também no programa de calouros de Ary Barroso, onde recebeu a nota máxima. Na mesma época, conheceu Bidú Reis. As duas passaram a se apresentar na Rádio Cruzeiro do Sul, na Hora Juvenil, formando a “Dupla Moreninha”. Na mesma emissora, em 1937, apresentavam-se no “Programa Gadé” e na “Hora H”, comandado por Ary Barroso e Paulo Roberto. Entre 1937 e 1938, a dupla cantou também nas rádios Mayrink Veiga, Transmissora e Sociedade Fluminense. Em março de 1938, excursionaram por várias cidades do Estado do Rio de Janeiro. A dupla, no entanto, teve uma vida breve.

As apresentações de Emilinha seguiram fazendo muito sucesso. Começaram, então, a aparecer propostas de várias rádios para cantar profissionalmente. Ela cantou em várias emissoras: na Rádio Guanabara, no Programa Chiquinho; na Mayrink Veiga, no “Programa Batendo o Papo”, orientado por Alvarenga e Bentinho; na Transmissora, no programa “De graça para todos”, apresentado por Gomes Cardim, entre outras. Em janeiro de 1938, passou a fazer parte do Cast da Rádio Sociedade Fluminense, levada por Gomes Filho, diretor artístico da emissora.

Em 1939, assinou seu primeiro contrato com a Mayrink Veiga, onde recebeu de César Ladeira o slogan de “Garota grau dez”.

Crooner do Cassino da Urca

Em 1939, a mãe de Emília trabalhava como camareira no Cassino da Urca. Lá ela conheceu Carmen Miranda e falou de sua filha que gostava de cantar e ficava imitando a “Pequena Notável”. Disse também que a menina já havia tirado a nota máxima no programa de Ary Barroso. Muito objetiva, Carmen disse para dona Edith: “Então traga ela aqui para fazer um teste”. Emília ainda era menor de idade, mas Carmen Miranda conseguiu disfarçar a idade da menina com maquiagem pesada e sapatos altos. Durante o teste, Carmen distraiu o proprietário do Cassino, Joaquim Rollas, e assim Emília foi aprovada no teste e contratada como crooner, apesar da pouca idade. Assim, nasceu a estrela.

Emilinha começou a brilhar também no cinema. Sua primeira aparição em filmes foi em fevereiro de 1939, em “Banana terra”.

Anunciada como “A maior revelação do broadcasting brasileiro”, em janeiro de 1939, Emilinha se apresentou no cinema Alhambra, onde cantou “Boneca de Pixe”, “A Jardineira” e “A dança do pirulito”, num show apresentado por Ronaldo Lupo, antecedendo a exibição do filme “Bonequinha de Seda”, em cartaz na época.

Em toda a carreira, Emilinha participou de mais de 40 filmes, cantando ou até mesmo contracenando com atores famosos.  Entre eles: “Laranja da China”, “Poeira de estrelas”, “Aviso aos navegantes” e “Garotas e samba”. No filme “Este mundo é um pandeiro”, de 1947, aparece cantando a rumba “Escandalosa”, uma das músicas com a qual Emilinha é lembrada até hoje.

 

Primeiras gravações

Em janeiro de 1939, fez sua primeira gravação em disco, na Columbia, na qual cantou com Nilton Paz e acompanhamento de Napoleão de Seus Soldados Musicais, a marcha “Pirulito”, de João de Barro.

No mesmo ano, gravou, com acompanhamento de Benedito Lacerda e Seu Conjunto Regional, seu primeiro disco solo, com o samba “Ninguém escapa”, de Frazão,  e o samba-choro “Faça o mesmo”, de Nássara e Frazão. Gravou ainda “Faça de conta”, de Antonio Almeida e Mário Lago; “Vem cantar também”, de Paulo Pinheiro e J. Ferreira, e “Qual a razão”, de Antonio Almeida e Mário Lago.

No ano seguinte, ainda com o nome de Emília Borba, registrou na cera os sambas “O cachorro da lourinha” e “Meu mulato vai ao morro”, ambos de Gomes Filho e Juracy Araújo. Em 1941, transferiu-se para a Odeon, onde passou a gravar com o nome artístico de “Emilinha Borba” e levou ao disco as músicas “Quem parte leva saudade”, de Francisco Scarambone; “Levanta José”, de Haroldo Lobo e Dunga; “O fim da festa”, de Newton Teixeira e Nelson Trigueiro, e “Eu tenho um cachorrinho”, de Osvaldo Santiago e Geordes Moran.

 

Estrela da Rádio Nacional

Em 1942, foi contratada pela primeira vez pela Rádio Nacional, onde permaneceu por alguns meses. Voltou à emissora em setembro do ano seguinte e permaneceu por 27 anos, chegando a ser chamada de a “Estrela Maior da PRE-8”. Cantou com sucesso todos gêneros musicais.

A carreira de Emilinha Borba está intimamente ligada à Rádio Nacional. Foi a grande estrela dos principais programas: César de Alencar, Paulo Gracindo, Manoel Barcelos… Ela era também a atração do programa “A Felicidade Bate a sua porta”. Neste programa, era sorteado um bairro da cidade e neste bairro, uma casa. Emilinha chegava junto com o furgão da Rádio Nacional e cantava para uma multidão de fãs que disputava o melhor lugar para ficar mais perto de sua grande estrela.

Criou vários sucessos que permanecem através do tempo, com regravações por artistas, tanto de sua época quanto contemporâneos. Um exemplo é o samba-canção “Se queres saber”, de Peterpan, gravado em 1947.

 

Emilinha foi também uma das maiores estrelas do nosso carnaval. Seu nome esteve sempre ligado ao reinado de momo de forma destacada. As marchas carnavalescas encontraram em Emilinha Borba uma de suas maiores intérpretes. Em todos os carnavais, desde a década de 40, fez sucesso com pelo menos uma marcha. Gravou o gênero até o fim de sua carreira. As marchas gravadas por Emilinha são presença obrigatória em todos os bailes carnavalescos.

Em sua carreira, Emilinha Borba foi uma colecionadora de títulos. Entre eles podemos citar: campeã de correspondências da Rádio Nacional, durante 19 anos consecutivos até o fim da pesquisa, em 1964. Foi escolhida a melhor cantora numa promoção da Revista do Rádio de 1950 a 1953. Foi eleita também a “Rainha dos Corações” e “Rainha da Rádio Nacional”. Em 1953, foi eleita a “Rainha do Rádio”, título que até hoje lhe pertence. Entre as honrarias recebidas, destacam-se a Medalha Pedro Ernesto e a escolha como a “Favorita Permanente da Marinha”, um dos títulos mais queridos da cantora. Com a Banda do Corpo de Fuzileiros Navais, gravou “Aí vem a Marinha”.

 

 

Ao longo da carreira, Emilinha vivenciou vários momentos da história dos cantores brasileiros. Desde a era do crooner no Cassino da Urca, passando pelos cantores de auditório de rádio, o cinema, o teatro e as apresentações em praça pública. Em cada uma dessas fases, conviveu com um momento da tecnologia de som. Teve o privilégio de ser a primeira cantora brasileira a gravar em estúdio com a modernidade do sistema de gravar separadamente o acompanhamento instrumental e só depois, sobre esta base, “colocar a voz do cantor”. A música foi o cha-cha-cha “Cachito”, de Consuelo Velasquez, versão de Bougert. Cachito” também fez parte do filme “Cala a boca Etelvina”, em 1959.

 

Emilinha Borba atuou também em diversas emissoras de TV. Passou pela Record, de São Paulo; TV Rio; Excelsior; Itacolomi, de Belo Horizonte e Tupi. Substituiu algumas vezes o “Velho Guerreiro”, apresentando a “Discoteca do Chacrinha, nas TVs Excelsior e Rio.

Nas décadas seguintes, prosseguiu a carreira apresentando-se em shows, excursões e principalmente em bailes carnavalescos, onde suas músicas sempre foram muito bem aceitas. Emilinha não deixou totalmente de gravar. Após um afastamento de mais de 20 anos, em 2003, lançou o CD “Emilinha pinta e Borba”. Com as dificuldades de acesso às gravadoras, Emilinha resolveu produzir seu próprio disco, com o apoio da Prefeitura Municipal do Rio de janeiro. Neste CD, contou com as participações de Cauby Peixoto, Marlene, Adelaide Chiozzo, Nando Reis, além de Ney Matogrosso.

Emilinha nunca parou de cantar até o seu falecimento no dia 3 de outubro de 2005. Foi a maior expressão de popularidade da música brasileira. Foi também a primeira artista brasileira a ter um fã-clube. Em 1949, seus fãs se reuniram e criaram uma instituição copiando o modelo americano. O fã-clube existe até hoje e mantém a mesma fidelidade à cantora. Todos os anos, se reúnem na Igreja de Nossa Senhora da Lampadosa, no Centro do Rio de Janeiro, em uma missa em memória da cantora.

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