Miguel Gustavo – 100 anos do autor de “Pra frente Brasil”
Miguel Gustavo é o autor de mais de 140 composições e de muitos jingles que marcaram época na história da publicidade. Entre as suas composições mais famosas está o hino da campeonato mundial de futebol de 1970 “Pra frente Brasil”.
Nascido no Rio de Janeiro, em 24 de março de 1922, no bairro Piedade, no Rio de Janeiro, Miguel Gustavo Werneck de Souza Martins fez o curso primário na Escola Argentina e na Escola Sarmiento, no Engenho Novo, e o primeiro e segundo ginasial no Colégio Pedro II. Precisou deixar os estudos para trabalhar. Seu primeiro emprego foi como entregador de amostras de um escritório de corretagens de café. Trabalhou também como tarefeiro na Central do Brasil e como vendedor de apólices. Iniciou a carreira no rádio, aos 19 anos, como discotecário na Rádio Vera Cruz. Na emissora, exerceu também as funções de redator e locutor. A convite de Francisco Marques, transferiu-se para a Rádio Globo, onde foi redator e mais tarde coordenador artístico e comercial. Nos anos 1960, foi diretor da TV Excelsior. Miguel Gustavo foi casado com a radialista Sagramor Scuvero.
Como autor de música popular, teve sua primeira composição gravada em agosto de 1946, na Continental, por Luiz de Carvalho, Dilú Melo e Os Tocantins.
No ano seguinte, em parceria com Ataulfo Alves, compôs o samba “O que é que eu vou dizer em casa”, gravado na RCA Victor por Ataulfo Alves e suas Pastoras. Depois vieram: “Valsa da vovózinha”, em parceria com Juanita Castilho e Edmundo de Sousa, gravada por Carlos Galhardo, em 1952; “Leilão na Matriz” e “Baião das mulheres”, ambas em parceria com João S. Guimarães e gravadas por Luiz de Carvalho e As Moreninhas (1952); “É sempre o papai” , gravada por Zezé Gonzaga e As Moreninhas, em 1953, “Canção para ninar mamãe”, gravada em 1954 por Neusa Maria, entre outras. O primeiro grande sucesso no disco aconteceu em 1955, com a composição “Café Soçaite”, gravada por Jorge Veiga.
Entre os sucessos que compôs para o carnaval está a marcha “Fanzoca de rádio”, gravada em 1957 pelo Palhaço Carequinha com Altamiro Carrilho e seus carnavalescos, na gravadora Copacabana. A composição é uma sátira aos gritos histéricos das fanzocas que lotavam os auditórios das emissoras de rádio na época. A música também fez parte do filme “É de chuá”, da Hebert Richers, em 1958, com a cantora Nirinha (irmã do compositor Herivelto Martins) no papel de fanzoca.
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Considerado um dos mais competentes profissionais da publicidade brasileira, Miguel Gustavo especializou-se em jingles. Entre as suas criações estão jingles famosos como “Melhoral, Melhoral, é melhor e não faz mal”, “Tomou Seu Toddy Hoje?”, Casas da Banha, Vaquinha Mococa, Leite Glória, Café Moinho de Ouro, Neocid, Revista do Rádio, entre outros. Foi o criador também de alguns slogans como o das Pílulas Ross: “Pequeninas, mas resolvem” e da loja de roupas infantis O Príncipe: “Príncipe veste hoje o homem de amanhã”.
Em entrevista à Revista do Rádio, em 1959, Miguel Gustavo falou sobre seu processo de criação: “Primeiro vejo os pontos de venda, quase sempre fornecidos pelo cliente ou pela agência. Depois vem as condições de mercado, qualidade, preço, público a que se dirige o produto e detalhes outros com os quais se possa estabelecer a ligação entre quem vai comprar e quem vai vender. Depois disto, então, faz-se o desenho musical e leva-se ao cliente. Detalha-se o trabalho, pensa-se no cantor ou conjunto, locutor, se vai mesmo no ritmo em que está ou se vai mudar, enfim, conversa-se o assunto. Aprovados os termos do jingle, música, texto, etc. chegamos ao fim e marca-se a data da gravação” – explicou. Ele contou também, que para compor costumava “batucar” a melodia no piano e só depois ia para a máquina de escrever criar os versos.
Em 1970, as empresas que patrocinaram a transmissão ao vivo da Copa do Mundo de Futebol daquele ano queriam um hino para ser tocado durante as comemorações da vitória ou na abertura e no final das transmissões. Foi aberto um concurso e mais de cem composições foram inscritas. Miguel Gustavo decidiu participar depois de saber que a maioria dos candidatos eram compositores, mas não tinham a mesma experiência que ele na criação de jingles. “Entreguei a fita no prazo final das inscrições. Procurei a sonorização fácil, com assobios servindo para marcar a melodia na mente do ouvinte. A letra procura dizer o máximo em termos bem populares: “de repente é aquela corrente pra frente” mostra como 90 milhões de brasileiros estão unidos pela mesma motivação, a conquista da Copa” – contou ao jornal O Globo em junho de 1970. A composição de Miguel Gustavo venceu o concurso e se tornou o hino da conquista do tricampeonato brasileiro.
Miguel Gustavo faleceu em 22 de janeiro de 1972. Sua última produção musical foi a Marcha da Independência, criada para ser o hino oficial das comemorações dos 150 anos da Independência do Brasil, gravada por diversos cantores como Lúcio Alves, Elizeth Cardoso e Angela Maria.