Odete Amaral – A voz Tropical

Odete Amaral – A voz Tropical

Pesquisa e texto: Patrícia Rodrigues

Foto: Cinemateca Brasileira – Cena do filme “Samba em Brasília”, Cinedistri, 1960

Conhecida como a Voz Tropical, Odete Amaral foi uma das grandes cantoras do rádio nas décadas de 30, 40 e 50. Foi intérprete de sucessos como o choro “Murmurando”, de Fon Fon e Mário Rossi; a marcha “Colibri”, de Ary Barroso, e os sambas “Triste fiquei”, de Lauro Paiva e Hannibal Cruz e “Sei lá Mangueira”, de Paulinho da Viola e Hermínio Belo de Carvalho, entre outros.

Odete Amaral nasceu em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, no dia 28 de abril de 1917. Seus pais, Alfredo Amaral e Albertina Ferreira do Amaral, eram lavradores. Havia ainda sua irmã mais velha Nair, que seria a grande incentivadora de Odete. Começou a trabalhar muito cedo para ajudar a família. Em 1929, foi contratada como bordadeira na América Fabril e passou a estudar à noite. Odete gostava de cantar. Tinha uma voz muito bonita e era sempre convidada para cantar em aniversários e festas da escola.

Em 1935, quando ela e Nair voltavam de uma visita a Niterói, ao passar pela Rua Primeiro de Março, no Centro do Rio de Janeiro, incentivada pela irmã, foi conhecer a Rádio Guanabara. Empolgada com aquele ambiente repleto de artistas, se encheu de coragem, foi até Alberto Manes, então diretor da emissora, e pediu para fazer um teste. Acompanhada ao piano por Felisberto Martins, cantou o samba “Minha embaixada chegou”, de Assis Valente. Odete foi aprovada e logo escalada para cantar no programa “Suburbano”, junto com Noel Rosa, Marília Batista, Almirante, Aurora e Carmen Miranda. O seu belo timbre de voz e a graciosidade de suas interpretações fizeram com que a jovem cantora logo se tornasse conhecida. Ela passou a se apresentar nas rádios Club do Brasil, Cruzeiro do Sul, Phillips e Sociedade.

Odete Amaral passou a atuar também como corista da Odeon. Foi por iniciativa de Henrique Foréis Domingues, o Almirante, que ela gravou seu primeiro disco. Essa primeira gravação pegou a cantora de surpresa. Almirante pediu para Odete cantar para o diretor da Odeon os sambas “Dengoso”, de Milton Amaral e “Palhaço”, de Milton Amaral e Roberto Cunha. Quando acabou de cantar, teve uma surpresa: sua voz havia sido gravada. Todos gostaram da prova. Odete cantou novamente. Pela primeira vez para uma gravação profissional. Dizia a cantora que ficou tão emocionada que a voz saiu trêmula.

Ainda em 1935, Odete Amaral participou da inauguração do Cassino Atlântico, cantou na Rádio Ipanema e atuou no Teatro de Revista, cantando “Ganhou, mas não leva”, de Milton Amaral. O sucesso da primeira gravação na Odeon, fez com que Ary Barroso levasse Odete Amaral para a RCA Victor. O compositor dizia que a voz de Odete era boa do jeito que era, pois ela não imitava ninguém. Ás vezes, de brincadeira, imitava Carmen Miranda, só para irritar Ary. Na RCA, Odete gravou duas composições de Ary: a batucada “Foi de madrugada” e a marcha “Colibri”.

Em 1936, assinou seu primeiro contrato em rádio, com a Cruzeiro do Sul. Em setembro do mesmo ano, cantou na inauguração da Rádio Nacional. Foi uma das primeiras cantoras contratadas pela emissora da Praça Mauá, onde permaneceu por dois anos.

Odete cantou também na Rádio Mayrink Veiga, onde César Ladeira lhe deu o slogan de “A Voz Tropical”.  No mesmo ano,  foi convidada para cantar em uma festa em homenagem ao Flamengo. Foi lá que Odete conheceu o cantor Cyro Monteiro, com quem viria a se casar dois anos depois. Cantaram juntos na Rádio Mayrink Veiga e como coristas na Odeon.

A cantora atuou também no famoso Programa Casé. Dessa época, guardava lembranças muito divertidas como a que contou à revista Radiolândia, em junho de 1954: “A turma era boa, era unida mesmo. Nunca pude esquecer o dia em que eu, o Noël, o Luiz Barbosa e o Cyro, estávamos cantando na Mayrink Veiga, no Programa Casé, o popularíssimo “É de babado”. Cada um de nós ia improvisando um versinho. Naquele tempo o microfone era muito diferente do que é hoje. A pessoa para cantar era obrigada a se escorar no dito. Pois não é que o micro foi parar no chão… e nós todos em cima. A turma estava tão animada que não parou. Acabamos de cantar deitados um por cima do outro, enquanto o contrarregra olhava a cena com os olhos esbugalhados…”

A carreira de Odete Amaral no disco prosseguia com sucesso, graças ao seu bom gosto na escolha do repertório e sua voz doce e aveludada. São dessa época, as gravações de “Terra de amores”, de Gadé e Valfrido silva, “Só você”, de Hannibal Cruz, “Triste fiquei”, de Lauro Paiva e Hannibal Cruz, e “Sorrindo”, de Cyro Monteiro e L. Pimentel.

Em 1939, Odete foi contratada pela Rádio Cultura de São Paulo. Junto com Cyro Monteiro, percorreu o Brasil inteiro e ganharam um novo slogan: “O casal feliz do rádio”.  No mesmo ano, gravaram juntos os sambas “Bem querer” e “Sinhá, Sinhô”, de Aloísio Silva Araújo.

https://www.youtube.com/watch?v=law04Pc0vbU

“Odette Amaral iniciou-se audaciosamente no rádio brasileiro. Sem proteção nem reclames, unicamente pelos dotes vocais, foi ascendendo no conceito dos radio-ouvintes, ganhando popularidade, adquirindo prestígio como cantora apreciadíssima do nosso broadcasting” – destacou Marisa Lira na Revista Pranove, em abril de 1939.

Além do rádio, Odete marcou presença como corista em diversas gravadoras. Sua voz pode ser ouvida enriquecendo gravações de outros cantores famosos como Silvio Caldas, Francisco Alves, Dircinha Batista e Carmen Miranda. Era muito fotogênica e esta qualidade levou a cantora a brilhar também no cinema. Participou do filme da Cinédia “Samba da vida”, cantando o samba “Luar no morro”, de Walfrido Silva.

Em 1941,  voltou para a Rádio Mayrink Veiga, onde permaneceu até 1947. A cantora continuou fazendo sucesso junto ao público e a gravar com frequência. Voltou também para a Odeon, onde gravou a valsa “Minha primavera”, de Gadé e Almanir Grego e o samba fantasia “Minha voz”, de Eratóstenes Frazão, onde demonstra o perfeito domínio de sua voz.

O fim da década de 40 foi um período em que Odete Amaral fez poucas gravações. Em 1947, foi para a Rádio Mundial, onde ficou até 1951 quando foi contratada pela Rádio Tupi. Em 1949, separou-se de Cyro Monteiro.

Junto com as cantoras Linda e Dircinha Batista, participou da inauguração da TV Tupi do Rio de Janeiro, em 1951. Nos anos 50, gravou os choros “Bichinho que rói”, de Denis Brean e “Mais uma vez”, de Cachimbinho e Delore, o clássico samba canção Ai Ioiô, de Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto, entre outras músicas. Também é desta época a gravação do samba “Nasceu pra sofrer”, de Arnô Provenzano, Isaías Ferreira e Oldemar Magalhães, no melhor estilo carnavalesco.

Em 1968, ao lado de Cartola, Carlos Cachaça, Clementina de Jesus e Nelson Cavaquinho, gravou o LP “Fala Mangueira”. Odete Amaral prosseguiu com sua carreira na Rádio Tupi até se aposentar em junho de 1970. Passou por diversas gravadoras e lançou alguns LPs. Em 1975, contribuiu grandemente para a preservação da memória musical brasileira ao participar da série “MPB 100 ao vivo”, no Projeto Minerva, na Rádio MEC, cantando sucessos dos anos 30. Um dos últimos trabalhos da cantora foi a participação no show “Café Nice”, sob a direção de Ricardo Cravo Albin. Odete Amaral faleceu no dia 11 de outubro de 1984, aos 67 anos de idade.

 

 

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